A direcção da Empresa Nacional de Pontes de Angola, que não paga salários há 54 meses, suspendeu 82 trabalhadores, mais de 70 em idade de reforma, e toda a comissão sindical, denunciou hoje o sindicato. A razão da força volta a impor-se à força da razão. Se o regime é o mesmo há quase 43 anos…
A informação foi transmitida hoje pelo primeiro secretário da comissão sindical daquela empresa pública, Mateus Alberto Muanza, que considerou “inaceitável, desumana e ilegal” a medida da direcção da empresa, porque deveriam antes ser liquidados os salários em atraso.
“São no total 82 trabalhadores e nós não admitimos e nem aceitamos esse tipo de suspensão. A empresa como deve aos trabalhadores e o que está em causa são os 54 meses de salários por pagar, não é normal que a direcção da empresa tome essa medida sem antes pagar os salários”, disse.
Segundo o sindicalista, a decisão foi anunciada pelo director-geral da empresa, durante uma reunião que teve lugar segunda-feira, na qual a direcção informou que a “suspensão será temporária”, por um período de seis meses, não acreditando os trabalhadores nesse argumento.
Para o sindicalista, a empresa “deveria falar em despedimentos e indemnizações e não suspender os trabalhadores, que é contra os princípios legais e até desumano, sem o respectivo salário e o pagamento de outros direitos”, observou.
“É um caso inédito no país e não acreditamos que a suspensão seja mesmo temporária. Fala-se de uma parceria chinesa e logo que a mesma chegar, ao mesmo tempo vai trabalhar com a direcção da empresa, mas não acreditamos, porque essa tal parceria poderá trazer a sua mão-de-obra”, acrescentou.
Mateus Alberto Muanza, que também consta da lista dos trabalhadores suspensos, manifestou-se ainda “indignado” com a medida que abrange igualmente os seus colegas em idade de reforma, doentes, denunciando o facto caricato de a empresa ter suspendido “uma funcionária já falecida”.
“E ainda resolvem suspender colegas que se encontram doentes. Como isso é possível? Quer dizer, a direcção da empresa vai matar os trabalhadores. E ainda lamentamos ver nessa lista o nome de uma colega que já é falecida. Isso é muito triste”, lamentou.
Anunciou que esta medida não será aceite pelos trabalhadores, que já reuniram e decidiram não cumprir a mesma sem que a direcção da empresa pague os salários em atraso.
“Independentemente dessa suspensão, já marcamos uma marcha de protesto contra o Governo, que deve acontecer no dia 26 deste mês”, salientou.
Em Abril, a direcção da empresa pública de pontes informou que estava em curso um processo de suspensão temporária de cerca de 160 trabalhadores, justificando que a medida tinha como objectivo “potenciar a empresa”, processo que terá já iniciado noutras filiais da firma no interior do país.
“No geral poderemos suspender temporariamente cerca de 160 trabalhadores, em Luanda somos 170 e podemos suspender, numa primeira fase, 88 trabalhadores. Apelamos aos trabalhadores que tenham mais paciência, sejam mais comedidos, que a situação há de passar”, disse anteriormente o director-geral da empresa, José Henriques.
O responsável afirmou igualmente, naquela ocasião, que a medida se enquadra “numa futura parceria que a empresa de pontes vai estabelecer com um consórcio nacional, para potenciar a empresa e poder deste modo pagar os atrasados”.
Folha 8 com Lusa